Mitos e Verdades Sobre Emagrecimento na Visão da Neurociência

Descubra o que é fato e o que é fake sobre o processo de perda de peso

Quando o papo é emagrecimento, existem muitos mitos e verdades que confundem a cabeça de quem pretende entrar em uma dieta ou mudar, de uma vez por todas, o estilo de vida.

Nessas mais de três décadas trabalhando como médico nutrólogo, não tem um dia que não escuto as seguintes frases: “Doutor, eu preciso emagrecer”; “Eu quero ser saudável”; “Eu preciso saber mais sobre emagrecimento e gerenciamento de peso”; “Eu quero melhorar o meu intestino” …

O que eu sempre digo para meus pacientes é que, além de metas, é preciso ter clareza para chegar a um objetivo e, para isso, quanto mais se desmistificar o assunto e mais conhecimento tiver, mais fácil se tornará a sua jornada. Para te ajudar a compreender algumas questões, trouxe aqui questionamentos que valem a reflexão.

6 mitos e verdades sobre emagrecimento

1. Para emagrecer é mais fácil mudar um comportamento do que mudar uma crença.

MITO!

A maioria das pessoas acredita que mudar um comportamento é simples, pois bastaria fazer aquilo que queremos modificar. E que mudar uma crença é difícil, pois seria necessário reorganizar tudo aquilo que pensamos e acreditamos ao longo da vida, que já estaria profundamente enraizado dentro de nós. Mas na realidade as coisas não são bem assim!

Para explicar melhor esses conceitos, vou fazer uma pergunta bem simples: É mais fácil começarmos uma nova dieta de emagrecimento nesse exato instante ou acreditarmos, com todo o coração, que na próxima segunda-feira começaremos um novo programa alimentar? É mais fácil começarmos a agir aqui e agora (comportamento) ou termos a intenção ou o desejo de mudarmos alguma coisa (crença) na próxima semana ou em qualquer outro momento no futuro?

Mudar uma crença, uma intenção ou um desejo é bem mais fácil do que efetivamente começarmos a agir, ou seja, mudar um comportamento. A neurociência explica essa constatação sabendo que nosso cérebro evoluiu e trabalha constantemente para poupar nossa energia, em outras palavras, para fazer tudo com um mínimo de esforço. E para desejar mudar alguma coisa, não precisamos gastar nenhuma caloria, não é mesmo?

Muita gente fica sentada diante da televisão, comendo uma porção de batatas fritas, cheios de planos e sonhos, desejando começar um programa de emagrecimento na próxima semana. Nesta situação, ocorre uma ilusão que já está existindo uma mudança, mas isso é apenas uma crença.

Atenção, esse é um dos tipos mais comuns de autossabotagem. Essa é uma armadilha produzida pela nossa mente, pois realmente acreditamos nesse desejo de mudar. Mas para mudar efetivamente é preciso agir, é preciso sair da zona de conforto, ou seja, o cérebro precisa gastar energia. Crescer, aprender, agir, errar, cair e começar outra vez, e na maioria das vezes é doloroso e desconfortável.

O grande filósofo de negócios, Jim Rohn, já dizia que para as coisas mudarem, nós temos que mudar. O que efetivamente vai produzir um emagrecimento saudável e sustentado é o conjunto das nossas ações, e não as nossas intenções. Mesmo que nosso cérebro, que é programado para economizar energia, tente nos enganar e iludir.

O que vai determinar nosso sucesso não é o quanto nós desejamos reduzir de peso (crença), mas sim o quanto estamos agindo para que isso realmente aconteça (comportamento).

2. Emagrecimento é uma questão de força de vontade.

MITO!

Passamos boa parte da nossa vida ouvindo dizer que para emagrecer basta ter força de vontade. Algumas pessoas chegam ao ponto de afirmar que para controlar o excesso de peso, “fechar a boca” é o suficiente. Felizmente a neurociência vem trazer boas respostas para essa questão.

Inicialmente, é preciso saber que existem mecanismos fisiológicos e metabólicos que controlam tanto nosso apetite, quanto a capacidade do nosso corpo de acumular ou queimar gordura.

No interior do nosso cérebro existe uma estrutura chamada hipotálamo, que é a verdadeira central de controle da fome, da sede, da temperatura e do gasto energético basal. É exatamente no hipotálamo que são processadas as informações que são enviadas pelo estômago, intestino, músculos e tecido adiposo. E é nessa porção do sistema nervoso central que substâncias como grelina, insulina, leptina, dopamina, apenas para citar algumas, irão agir influenciando nossa fome e saciedade.

Entendendo isso, fica claro que a força de vontade mais poderosa do mundo não é páreo para esses hormônios e neurotransmissores, que nos últimos milhares de anos vêm evoluindo para controlar rigorosamente nosso desejo de comer, de ingerir líquidos, de descansar ou fazer exercícios.

Depender apenas da força de vontade para administrar o nosso emagrecimento é mais ou menos como deixar isso sob controle do nosso humor. Naquele dia que estamos bem humorados, é muito fácil irmos para academia treinar e tomar nosso shake proteico no café da manhã. Mas nos dias em que o nosso humor está mais frágil, é muito mais difícil resistirmos a uma guloseima ou ficarmos sentados no sofá vendo televisão ao invés de irmos treinar.

Muito mais do que apenas confiar nessa tal de força de vontade, que já vimos que é bem instável, é preciso adquirir disciplina mudando nossos hábitos para alcançar um emagrecimento saudável.

Quando temos um hábito consolidado, não dependemos do nosso humor nem da nossa força de vontade para fazer as coisas importantes. O grande poder do hábito é permitir que nós façamos as coisas sem precisar pensar muito, sem gastar muita energia para decidir isso, pois o processo já está automatizado.

Alguns estudos falam que para consolidar um novo hábito levamos cerca de 66 dias.  Assim, para confiarmos plenamente nos mecanismos do controle fisiológico da fome, da saciedade e para atingirmos um emagrecimento saudável, independente da nossa força de vontade é necessário trabalharmos na aquisição de hábitos que promovam um estilo de vida positivo e ativo.

E para que isso ocorra, quero compartilhar aqui duas dicas bem práticas:

1) Devemos ter paciência! Ter disciplina é um processo demorado, desenvolver um novo hábito é um processo demorado, emagrecer de forma sustentada é um processo demorado. Por isso, é importante dividir as nossas metas em curto, médio e longo prazo. E, claro, comemorar muito cada vitória e cada conquista obtida.

2) É muito mais difícil emagrecer sozinho! Poder contar com um mentor, com um coach que já obteve sucesso e já ajudou outras pessoas a atingirem seus objetivos, tornará o seu processo muito mais fácil, rápido e motivador.

3. O açúcar vicia.

DEPENDE – MITO e VERDADE

Do ponto de vista da neurociência, essa é uma pergunta bem complexa e cabe aqui, a título de reflexão, dois tipos de respostas.

Inicialmente, não é adequado compararmos alimentos ou ingredientes alimentares com substâncias psicoativas como o álcool, nicotina e cocaína, por exemplo, que causam dependência física e ou psicológica.

De fato, ninguém come açúcar puro, nós comemos doces, sobremesas, bebidas adocicadas, que independentemente de serem saudáveis ou não, são verdadeiramente muito saborosas, e que quando consumidas em ocasiões especiais, esporadicamente e com parcimônia não deveriam trazer nenhum grande prejuízo para quem as ingere.

Por outro lado, nós sabemos que um grupo bem significativo de pessoas realmente perde o controle e não consegue interromper a ingesta de doces, enquanto a quantidade disponível não acaba. Para a neurociência, uma substância qualquer pode ser suspeita de causar dependência, ou viciar, quando preencher esses quatro critérios:

  1. Redução na capacidade de controle sobre o consumo.
  2. Forte desejo sobre a substância.
  3. Uso continuado, mesmo sabendo que faz mal.
  4. Tentativas repetidas de reduzir o consumo ou de parar de consumir, sem sucesso.

Agora ficou mais claro entendermos que a reposta para a questão relativa ao vício em açúcar, não é nada simples. Mesmo sendo um alimento, para algumas pessoas, o açúcar branco preenche todos esses 4 critérios.

Quando identificamos que estamos com dificuldade para controlar o consumo de alimentos ricos em açúcar, devemos procurar ajuda. Esse mau hábito pode comprometer o emagrecimento e a saúde como um todo.

4. Para um emagrecimento com sucesso é preciso ter metas e objetivos claros.

VERDADE!

Quando um paciente se queixa sobre o seu peso ou me diz que deseja emagrecer, eu rapidamente pergunto: Quantos quilos você quer emagrecer? Em quanto tempo você quer controlar esse peso? Quando e como você quer começar? E se você falhar, se for muito difícil, você vai desistir ou perseverar?

Ter metas claras é saber detalhadamente o que nós queremos mudar e desenvolver um plano, uma estratégia para sabermos como, quando e em quanto tempo vamos fazer isso.

Para isso, é necessário conhecimento e experiência. A neurociência explica que a nossa mente pode criar armadilhas ou sabotagens que dificultam os processos de mudança. Cada um de nós possui traços de personalidade que podem conspirar para sermos mais ou menos resistentes às mudanças, para sermos mais ou menos agressivos com aqueles que tentam nos ajudar, para sermos mais ou menos propensos a deixar as coisas para mais tarde. Enfim, esses são apenas alguns dos desafios que nosso próprio cérebro cria para que as mudanças que desejamos, fiquem mais difíceis de serem obtidas.

Trace metas claras e atingíveis para chegar no objetivo que deseja e lembre-se de que sempre é possível melhorar os seus resultados.

5- Quase 100% das nossas ações são tomadas inconscientemente.

Verdade!

Mais de 80% das nossas ações são tomadas na “parte inconsciente” (cérebro irracional/ emocional). Quando realmente nos damos conta das nossas ações, ou seja, quando o nosso cérebro racional se dá conta da nossa atitude, elas já foram executadas.

Para simplificar o entendimento, podemos dizer que a parte 1 do cérebro é um sistema automático, que toma decisões de maneira inconsciente e rápida, levado em consideração todas as emoções e necessidades biológicas na hora das escolhas. Enquanto a parte 2 é um sistema mais lento, constantemente submetido a controles, que toma decisões de maneira consciente e gasta muito mais energia para isso.

Vale ressaltar que muitas vezes agimos na emoção e isso é completamente normal, o importante é manter um bom equilíbrio nas suas escolhas.

6- Exercício físico pode ajudar no transtorno de compulsão alimentar.

VERDADE!

O exercício físico faz bem não só para o corpo, como também para o cérebro. E se, praticado corretamente, com constância e frequência, que não seja baixa e nem excessiva, durante o tratamento de pacientes com transtornos alimentares, pode ser benéfico.

A atividade física aumenta a produção dos neutransmissores que atuam no hipotálamo, reduzindo a fome, aumentando a saciedade e equilibrando o humor, exatamente o que uma pessoa com compulsão alimentar mais precisa.

Neste caso, a atividade física atua, principalmente, no aspecto psicológico, melhorando a autoestima e autoimagem. É interessante que o plano de exercícios englobe flexibilidade, força, postura, atividades em grupo e exercícios, preferencialmente, aeróbicos. Eu recomendo hidroginástica, natação, caminhada, bicicleta, pilates, mas a atividade física ideal é aquela que a pessoa tem prazer e alegria em praticar.

Dr. Nataniel Viuniski – Médico Nutrólogo e Membro do Conselho para Assuntos Nutricionais Herbalife Nutrition.

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